Quem são elas? Baianas lideram startup
Por: Ascom/Fapesb
Cultiveae, incubada no Parque Tecnológico da Bahia, desenvolve projetos focados em ciência, tecnologia e inovação
Mulheres, mães, amigas, biólogas e empreendedoras. Para entender a história de Aldinéia Damião e Brena Mota, é preciso viajar no tempo e voltar à infância de ambas. Foi ainda criança que as meninas despertaram a paixão pela biologia. Inspiradas pelas aulas das professoras Sandra Peixoto e Tânia Freitas, respectivamente, os olhos delas brilhavam a cada descoberta.
Não é à toa que Brena afirma que desde muito pequena tinha o sonho de ser cientista. Enquanto as colegas ganhavam presentes como bicicletas, bonecas, videogames, a pequena Brena queria um microscópio. Filha de contabilistas, a menina ganhou o sonhado presente e não parou de “testar” tudo que encontrava na casa onde morava, no Matatu. “Tudo que via na frente, eu botava no meu microscópio e conseguia ver de perto”, conta.
A história de Aldinéia tem raízes no interior da Bahia. Natural de Barrocas, uma cidadezinha perto de Serrinha, Aldinéia viu seus pais, profissionais autônomos, escolherem se mudar para capital como forma de priorizar os estudos dos filhos. Seu Antônio, com seu carro, fazia o trajeto Paripe/Barrocas a cada 15 dias. E assim foi a infância de Aldinéia, dedicada aos estudos e à terra, já que no interior sempre teve muito contato com animais e plantas.
“Tenho uma irmã gêmea. Meu pai queria que a gente fizesse veterinária. Uma das três filhas precisava fazer algo na área de saúde. Quando fui fazer vestibular, coloquei biologia como primeira opção e fisioterapia como segunda, mas torcendo para não entrar nessa última, porque não era o que eu queria. Acabou que eu e minha irmã fizemos biologia”, lembra Aldinéia.
Enquanto a menina do interior se formou em biologia pela Universidade Católica de Salvador (UCSAL), a amiga fez o caminho inverso e foi estudar em Feira de Santana, onde cursou biologia na UEFS. Em 2009, quando buscaram o mestrado, elas se conheceram no laboratório do Instituto de Ciências da Saúde (ICS-UFBA). Nascia ali uma amizade que se fortaleceu do mestrado ao doutorado.
Uma década se passou até que ambas decidiram que estava na hora de empreender. Foi assim que fundaram em 2020, a Cultiveae, uma startup, que em tradução literal significa empresa emergente, incubada no Parque Tecnológico da Bahia, que é vinculado à Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação (Secti) e gerido pela Associação de Empresas do Parque Tecnológico (AEPTEC).
A Cultiveae nasceu da inquietação das suas fundadoras, que, em conjunto com Alexandre Marques, antigo sócio, trouxeram para o mercado a Horta Íris, com o método hi#OOPS#ônico, que permite o cultivo sem a necessidade do solo. “Nosso produto surgiu com a proposta de solucionar a dor daquelas pessoas que desejam ter uma horta em casa ou trabalho, mesmo que falte habilidade, tempo e espaço”, ressalta Brena. Ela destaca ainda que a equipe da startup inclui Luisa Andrade, Rodrigo Guimarães e Lis Rosas.
A arte de criar um produto ou técnica requer tempo. “Nosso desafio foi criar um produto eficiente, bonito e sustentável. Entre conhecimento do sistema compacto e a validação da estrutura, foram mais de dois anos. Não é fácil validar uma estrutura que ficará 24h com água sem ter plástico. Passamos por modelo tubular, de plástico, de impressão 3D, três modelos de argila, até chegar a peça de cerâmica, que é encantadora. Depois de todos os testes, tivemos a validação de que essa era a melhor opção”.
Sem receita mágica, mas com vontade e persistência é possível alcançar os objetivos traçados. “O importante é seguir seu sonho. Independentemente do que for, tem que focar. Não adianta colocar empecilhos, seguir outros caminhos, porque lá na frente você vai se arrepender de não ter feito. Se tiver oportunidade, seja resiliente que o retorno vem”, estimula Aldinéia.
A Cultiveae pode ser contatada pelas redes sociais e pelo site www.cultiveae.com. Nesses canais, é possível obter mais informações sobre a startup, seus produtos e pontos de venda.
Para além do feijão no algodão
Incentivar as pessoas a cultivarem alimentos frescos para suas refeições. Esse é o principal objetivo das empreendedoras em um novo projeto, o de “microverdes”, que caminha em paralelo com o da Horta Íris. Trata-se de hortaliças ainda no período inicial de desenvolvimento, mas que, se relacionado aos cultivos adultos, podem ser até 60 vezes mais nutritivas.
O “Kit Microverdes”, com todo material necessário para o cultivo, custa em média R$20, e permite que as pessoas possam plantar e consumir. Os superalimentos, como também são conhecidos, tem o consumo recomendado em sopas, saladas, sanduíches e até em preparo de drinks. “Eles têm uma colheita de 7 a 21 dias e tem uma bomba nutritiva em relação à planta adulta, variando de acordo com a espécie”, destaca Aldinéia.
Esta é uma ação especial para as biólogas, já que, além das casas do consumidor, elas conseguiram chegar às escolas com o kit “Minha Hortinha”, que tem materiais focados em crianças, dando um upgrade na famosa atividade escolar de plantar um feijão no algodão. “É uma ferramenta educacional, um experimento científico, no qual o professor pode explorar muita coisa. Você permite que as crianças cultivem e vejam o crescimento da raiz, caule e folha, e depois ainda comem”, explicam.
Incubadora de inovações
A Cultiveae é uma das 11 startups incubadas na Áity, incubadora de empresas do Parque Tecnológico da Bahia, gerida pela Agência de Inovação da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), que tem como objetivo contribuir na transformação de ideias inovadoras em negócios de sucesso. Selecionadas por meio de chamadas públicas, as startups recebem todo o suporte para acelerar o seu desenvolvimento.
Brena e Aldinéia acreditam que o processo de incubação é decisivo para atingir os objetivos da Cultiveae. “O Parque permite que tenhamos um espaço de trabalho, bem como o networking com a troca de conhecimento com outras startups. Temos ainda a possibilidade de contar com pessoas para poder crescer, tanto no mundo do empreendedorismo, quanto da tecnologia e ciência. Além disso, o Parque traz visibilidade para o projeto”, afirmam.
Para o secretário da Secti, André Joazeiro, estimular a criatividade das pessoas é compromisso essencial na formulação de políticas públicas na área da inovação. “Temos um povo criativo, que, diariamente, em suas próprias casas, criam soluções para diversos problemas do cotidiano. Com fomento, através de editais, queremos ajudar essas pessoas a desenvolverem suas técnicas e produtos. Para ser inventor, não é preciso estar trancado em um laboratório. Ideias surgem a todo o momento nos mais variados ambientes”.
Entre as vantagens de incubar uma startup no Parque Tecnológico estão isenção do IPTU, redução do ISS para 2%, atuação em rede, visibilidade no mercado, ambiente equipado e que permite uma ampla troca de experiência, dentre outros fatores. As empresas recebem consultorias, capacitações, mentorias e assessorias de empresas engajadas com o mercado e com conteúdo atualizado.