Pesquisadores apresentam propostas para os problemas do Semiárido em Seminário promovido pela FAPESB
Por: Ascom/Fapesb
Quem ainda pensa no Semiárido como uma região pobre e seca, com famílias vivendo exclusivamente à base de agricultura, pouco sabe sobre esta região. A grande variedade de atividades e temas discutidos no Seminário Final de Avaliação de Pesquisas do Edital Semiárido 006/2007 mostra a pluralidade do Semiárido baiano. Durante os dias 17 e 18 de maio, 35 projetos apoiados pela FAPESB foram apresentados, englobando diversas frentes de pesquisa em atividades que possam contribuir para a resolução de problemas que assolam a região.
Segundo o Diretor Geral da FAPESB, Roberto Paulo Machado Lopes, o Seminário foi um evento especial, pois a temática é importante neste momento em que a Bahia vivencia a maior seca dos últimos 30 anos. “O Semiárido é muito importante porque abrange os municípios mais pobres do estado e embora seja comum o convívio com a seca, nos últimos três anos tem sido muito difícil”, disse. Para o diretor, a inércia institucional em relação aos problemas do Semiárido e a reprodução de comportamentos ao longo dos anos servem como freios para a transferência de tecnologia. A FAPESB, que tem no momento um edital aberto no valor de R$ 5 milhões para o Semiárido, busca produzir conhecimento para melhorar a ação pública e produzir ações diretas de transferência de tecnologia para o semiárido. “As demandas sociais crescem e muitas outras propostas surgirão com este Edital”, afirmou Roberto Paulo.
Na mesa de abertura do evento estavam presentes, além do Diretor Geral da FAPESB, o Coordenador de Pesquisa do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Aldrin Martin Pérez Marin, a Diretora para Fortalecimento Tecnológico Empresarial da Secretaria de Ciência Tecnologia e Inovação (SECTI), Telma Cortes Quadros de Andrade, o Diretor Executivo do Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza (FUNCEP), Marco Aurélio Lessa e o especialista em semiárido e Pró-reitor de Planejamento (Proplan) da UNEB, Luiz Paulo Neiva. Para Aldrin, o Seminário foi importante, pois possibilitou a integração de pesquisadores: “É bom ver a ciência sendo aplicada com o ser humano como protagonista”, disse. A representante da SECTI falou da importância do Seminário para provocar os pesquisadores a avançarem na área de CT&I para o semiárido: “Eu acho que a partir desse e dos próximos editais temos que ser mais provocativos para trazer esse tipo de tecnologia. É preciso partilhar essas criações”, afirmou.
Embora a seca esteja causando grandes problemas para a região do semiárido, os especialistas afirmam tratar-se de um fenômeno cíclico e, portanto, previsível. Segundo Neiva, não há nada de inusitado nesta situação: “Este período de seca ocorre em média a cada 26 anos e a Bahia está completamente despreparada. É preciso ter soluções pensadas de longo prazo”, disse. Para Lessa, o Seminário de Avaliação foi importante, pois focou na produção de conhecimento para uma área que não é apenas a mais pobre da Bahia, mas abrange uma grande parte do Nordeste. “Há tecnologias que ainda não foram apropriadas pela população do semiárido. Este e o próximo edital são muito importantes, pois promovem a transferência de tecnologia para essa região”.
Projetos
Nos dois dias em que o evento aconteceu, pesquisadores de diversas instituições da Bahia apresentaram trabalhos importantes para a melhoria da qualidade de vida da população do semiárido. Biodiversidade e ecologia, uso e reuso da água, energia, cultura, inclusão social, emprego, trabalho e geração de renda foram alguns dos eixos temáticos dentro dos quais as pesquisas foram desenvolvidas. A pesquisadora Adilva de Souza Conceição, por exemplo, fez um grande levantamento da flora e da fauna na região de Jeremoabo. Como resultado, montou um banco de dados com o DNA das espécies mais frequentes, que poderá ser utilizada em diversos estudos, inclusive para o desenvolvimento de medicamentos. Além disso, a pesquisadora realizou estudos sobre a produção e comercialização de mel, flores e frutas como boas formas de geração de renda para a região.
O pesquisador Marcelo Romano, representando o coordenador Walter Santos da EMBRAPA, apresentou o trabalho sobre a exploração racional de fruteiras adaptadas ao semiárido, visando seu consumo in natura e ao processamento industrial no estado. Através deste projeto, o pesquisador Walter buscou viabilizar a produção das frutas mais adaptáveis à região, como caju, umbu e umbu-cajá, além da capacitação de agricultores para sua exploração. O projeto teve bons resultados promovendo geração de empregos e a fixação da população no campo.
Boas práticas de fabricação foi o eixo principal da pesquisadora Ana Paula Trovatti Uetanabaro, da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), que apresentou seu projeto sobre o melhoramento biotecnológico do processo produtivo da cachaça. A pesquisadora mostrou que a cachaça é a única bebida genuinamente brasileira e que a Bahia é a segunda maior produtora. Com sua pesquisa, ela buscou a melhoria da qualidade da cachaça artesanal através da seleção de leveduras da fermentação e seleção de linhagens boas produtoras de bioetanol, criando condições adequadas para a produção da cachaça.
O professor Vital Paz, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) apresentou uma solução prática e de pequeno custo para otimizar a água do semiárido que geralmente é salobra: a utilização dessa água no cultivo de hortaliças em hidroponia. “A hidroponia é uma alternativa que possibilita menor perda de água por evaporação, maior produção em uma área menor e a reutilização do rejeito descartado”, explica Vital. A água salobra é misturada a nutrientes e passa por calhas de PVC, onde circula com ajuda de uma bomba de água simples. Como resultado, são produzidos alface crespa, alface roxa, rúcula e agrião com boa qualidade para consumo.
Mesa Redonda
Como encerramento, a FAPESB promoveu uma mesa redonda com o tema “Velhos e Novos Problemas do Semiárido”, que contou com a participação do representante do INSA, Aldrin Marin, o Diretor de Planejamento Territorial em Exercício da SEPLAN, Marcelo Rocha, o Chefe Geral da Embrapa Semiárido/PE, Natoniel Franklin de Melo e o Professor da Faculdade de Economia da UFBA, Vitor Athayde Couto.
O pesquisador Aldrin fez uma apresentação com alguns dados gerais sobre a região do semiárido e do trabalho desenvolvido pelo INSA. Segundo ele, o semiárido é visto como uma região problema para o país porque poucos conhecem suas potencialidades. “É preciso focar no modo de vida das pessoas”, disse. “O desafio é: como, a partir da ciência, tecnologia e inovação, posso criar um espaço de reflexão?”. Aldrin falou ainda sobre a importância do seminário e dos projetos apresentados: “Hoje pude ver que existem vários pesquisadores trabalhando temas pontuais e é muito importante integrá-los”.
Alguns programas do governo com foco no Semiárido foram apresentados por Natoniel, como o “Um milhão de cisternas” que promove a construção de cisternas pelas comunidades, para famílias que não têm acesso ao abastecimento de água. “É preciso subsidiar políticas públicas para ajudar a população do semiárido”, afirmou o representante da EMBRAPA, que mostrou algumas das políticas já desencadeadas pelo governo em áreas como fruticultura irrigada e agropecuária de sequeiro. Já Marcelo Rocha apresentou na mesa redonda os projetos da Secretaria do Planejamento para a Bahia de forma geral, incluindo a região do semiárido, que corresponde a 70% do território do estado. Dentre eles, estavam o Zoneamento Ecológico Econômico, que visa o desenvolvimento sustentável do estado e o uso racional do solo e dos recursos ambientais, além da ferrovia oeste-leste, rodovias, hidrovias, porto e uma plataforma logística em Feira de Santana.
O professor Athayde apontou as diferenças do modo de vida das famílias do semiárido, que vem se modernizando com o passar do tempo. Segundo ele, não existem mais famílias que vivam exclusivamente da agricultura, pois muitas outras atividades passaram a fazer parte de suas vidas. “E tem um detalhe: a renda agrícola é sempre menor do que os outros rendimentos que eles têm”, explicou. O professor falou, também, das intervenções externas na região do semiárido: “O que a gente percebe é que a potencialidade, aquilo que se transforma em riqueza, inclusive para a exportação, é praticamente tudo exógeno, ou seja, são capitais de fora que aplicam aqui pacotes e artificializam o ecossistema com irrigação, ou com correção do solo, ou com fertilização”. Para o professor, é preciso que se façam políticas públicas de forma mais atualizada, para que não se reproduzam as mesmas políticas do passado.
Ao final do Seminário, a FAPESB apresentou o livro “Semiárido: Edital Temático de Apoio a Pesquisas voltadas à resolução de problemas do Semiárido Baiano – 2007”, uma compilação dos 35 projetos apresentados durante o evento.
Fonte: ascom/fapesb