Estudos apontam os potenciais dos bioprodutos amazônicos
Por: Ascom/Fapesb
Alvo da cobiça de predadores de várias partes do mundo, a Floresta Amazônica, hoje, recebe grande número de expedições, que não têm como objetivo a destruição do meio ambiente, na realidade, essas inúmeras equipes são atraídas pela diversidade do patrimônio genético da região, encontrada no fundo dos rios ou nas seivas das árvores, onde pode estar a cura para diversas doenças.
A busca por essas substâncias é a base para as pesquisas apoiadas pela Rede de Biodiversidade e Biotecnologia da Amazônia Legal (Bionorte), financiada pela FAPEAM, com recursos que ultrapassam R$ 1 milhão, além do aporte liberado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Juntas, as duas instituições investem mais de R$ 4 milhões na Rede.
Integrados à Rede Bionorte, os projetos dos pesquisadores Valdir Florêncio da Veiga Júnior e Wanderli Pedro Tadei, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), respectivamente, já estão em andamento nos estudos das composições químicas e seus promissores resultados.
Para Tadei, pesquisador e coordenador do laboratório de Dengue e Malária do Inpa e proponente do projeto ‘Prospecção de antimaláricos e produtos de ação inseticida/repelentes da flora amazônica’, a Amazônia passa por um novo ciclo, no qual pesquisadores do mundo inteiro procuram a cura para muitas doenças. “A nossa biodiversidade é a riqueza maior que guarda nossas florestas. Maior que a enorme quantidade de madeiras nobres e maior até que as reservas de ouro e outros metais preciosos”, destacou.
Entre as principais propostas, segundo Tadei, está a apresentação de um grupo de plantas presentes na reserva do Inpa e em outros locais amazônicos, para a mostra de atividade larvicida, inseticida e antimalárica. No futuro, tais plantas poderão ser exploradas na forma de extratos, óleos essenciais extraídos, entre outros derivados, no combate às larvas e insetos encontrados.
“A descoberta de substâncias e seus derivados relevantes no controle de insetos vetores de doenças como malária, ou mesmo substâncias para o tratamento do câncer e da malária pode ter benefícios para diversos povos do mundo inteiro”, enfatizou.
Efeito repelente contra Anopheles
Substâncias naturais e derivadas serão postas em cápsulas, que, de acordo com o pesquisador, prolongam em até dois meses o efeito repelente contra o mosquito Anopheles darlingi, transmissor da malária. Se colocadas nos cantos das casas, explicou, as cápsulas são capazes de proteger durante a noite toda, diferentemente do óleo, que evapora em duas horas.
Extrativismo vegetal e bioprodutos
Resíduos de frutos e madeiras, descartados de maneira inadequada, que poderiam poluir o meio ambiente, agora servirão como matéria-prima para a extração de substâncias com valor no mercado internacional de cosméticos e alimentos funcionais, por meio do projeto ‘Processos fitoquímicos avançados para a obtenção de produtos a partir de resíduos do extrativismo vegetal da Amazônia’, de autoria do pesquisador e coordenador do Grupo de Pesquisas em Química de Biomoléculas da Amazônia, Valdir Florêncio.
O objetivo da pesquisa, segundo o autor do projeto, é extrair substâncias que tenham valor comercial não apenas no setor de cosméticos, mas também na área dos alimentos funcionais, responsáveis pela melhoria do metabolismo e controle dos problemas de saúde.
O mercado de cosméticos no Brasil, hoje, só perde para Estados Unidos e Japão, com um volume de US$ 28,77 bilhões em 2008, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, perfumaria e cosméticos, número que confirma a predisposição de empresas europeias que já manifestaram interesse no produto deste estudo, de acordo com o proponente.
“Estas substâncias estão presentes em diversos alimentos, como as antocianinas e os flavonoides, mas são descartadas com as partes não comestíveis em um volume que supera qualquer outro extrativismo não madeireiro. Uma vez que se detectem esses produtos e que sua forma de extração seja desenvolvida de maneira economicamente viável, pequenas empresas poderão ser incubadas para comercializá-los a empresas europeias já interessadas”, ressaltou Florêncio.
A principal forma de descarte inadequado, indicada pelo coordenador do projeto, é aquela feita diretamente nos rios, despejando inúmeros tipos de resíduos sólidos de frutos, além de líquidos de extração de polpas e óleos essenciais. Estes, quando lançados em rios, podem causar grande mortandade de peixes.
Entre as classes de moléculas já bem conhecidas no setor de cosméticos, explica, estão as antocianinas do açaí, antioxidantes poderosos que podem ser utilizados em suplementos alimentares.
O projeto contará com bolsistas de mestrado e doutorado já selecionados. A partir dos resultados, de acordo com Valdir Florêncio, a meta é que esses bolsistas possam desenvolver empresas fora da universidade. “As coletas serão feitas em vários Estados da Amazônia, como Pará, Tocantins e Amapá. Com a forma de extração desenvolvida de maneira economicamente viável, pequenas empresas poderão ser incubadas para comercializar estes produtos”, prospectou.
Esponjas que podem curar
A ideia de mergulhar no reino das águas doces em busca de substâncias com potencial para combater diversos tipos de vírus, além de essências com atividades anti-inflamatórias com possível ação de tratamento para o Mal de Alzheimer, é hoje o grande diferencial do projeto ‘Esponjas do Rio Negro: estudo da Química de Esponjas Dulcícolas da Reserva Ecológica de Anavilhanas’, sob coordenação do pesquisador Valdir Florêncio da Veiga Júnior, com financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O primeiro trabalho de análise das esponjas de água doce recebeu apoio da FAPEAM por meio do Projeto de Infraestrutura para Jovens Pesquisadores – Programa Primeiros Projetos (PPP). Realizado paralelamente aos trabalhos da Bionorte, o segundo projeto também com as esponjas de água doce, mais conhecidas como cauxis, tem o foco bastante distinto dos estudos na Rede.
A escolha do Parque Nacional de Anavilhanas, localizado no município de Novo Airão (a 115 quilômetros de Manaus em linha reta) se deu por se tratar do segundo maior conjunto de ilhas fluviais do mundo, sendo então privilegiado com uma diversidade de ambientes aquáticos, (arenoso, argiloso e rochoso) , o que favorece a fixação de esponjas de diferentes espécies. Outro fator relevante é a proximidade com a capital e a possibilidade de chegar ao município de carro, diminuindo significativamente os custos das expedições periódicas com diversos pesquisadores.
Os principais estudos já finalizados deste projeto, avaliado em R$ 50 mil, foram realizados pelo doutorando do Programa de Pós-Graduação em Química da Ufam, Iuri de Barros, em conjunto com a pesquisadora Cláudia Cândida Silva, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), por meio de análises dos constituintes metálicos que as esponjas são capazes de filtrar do Rio Negro.
“A primeira expedição da pesquisa foi realizada na época de cheia do Rio Negro, quando foram coletados os cauxis somente no alto das árvores para a identificação das espécies mais comuns na região. O trabalho de taxonomia foi realizado com o auxílio da Dra. Cecília Volkmer Ribeiro, do Parque Zoobotânico do Rio Grande do Sul, maior especialista mundial nestes animais aquáticos”, destacou Valdir Florêncio.
No último mês de novembro, a segunda coleta foi realizada no leito seco de diversos lagos em ilhas que permanecem inundadas durante onze meses e nas pedras ainda imersas. Conforme o planejamento repassado pelo pesquisador e coordenador do projeto, a próxima viagem dos ‘desbravadores’ acontecerá na época da vazante, quando a expedição retornará ao local em que foram encontradas as maiores quantidades de cauxis no fundo dos lagos. “Com o auxílio de Sistema de Posicionamento Global (GPS, na sigla em inglês) serão realizados mergulhos para a coleta dos cauxis que passaram mais de seis meses imersos”, projetou.
Os estudos foram iniciados em 2010 e devem durar mais três anos. O projeto em si, pelo financiamento, tem duração de dois anos e será finalizado em 2011.
Rede Bionorte
A Rede Bionorte tem o objetivo de apoiar projetos de pesquisa, desenvolvimento e inovação que visem contribuir significativamente para o desenvolvimento científico e tecnológico do País e integrar competências para a consolidação da Rede, por meio do apoio a projetos e formação de doutores com foco na biodiversidade e biotecnologia, visando gerar conhecimentos, processos e produtos que contribuam para o desenvolvimento sustentável da Amazônia.
A iniciativa conta com recursos do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), Fundo Setorial da Amazônia (CT-Amazônia) e Fundo Setorial de Biotecnologia (CT-Biotec), por intermédio da FAPEAM e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
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