Caroço de manga vira opção de biodiesel
Por: Ascom/Fapesb
Depois de processar a polpa, a indústria de sucos costuma reaproveitar as cascas e caroços da manga como adubo orgânico ou ração animal.
Um uso que pode, além de resolver o problema da destinação do resíduo, agregar valor a ele acaba de ter a patente requerida pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Trata-se de um processo de transformação da gordura da amêndoa da fruta em biodiesel.
A amêndoa fica dentro do caroço da manga e tem um teor de óleo de 12%. É pouco se comparado ao da soja, que alcança 54%. “Mas, em se tratando de um resíduo, e não de uma planta cultivada para a extração de óleo, é um valor considerável”, avalia a química Kátia Aquino.
Os levantamentos iniciais dela apontam que um quilo de amêndoa de manga fornece 133 gramas de gordura, enquanto que um quilo de soja se extraem 120 gramas de óleo.
A gordura, lembra a pesquisadora, é sólida, enquanto o óleo é líquido, mas de ambos se pode produzir biodiesel, desde que atendam os requisitos da Agência Nacional de Petróleo. Um deles, o de acidez, deu o sinal verde para a equipe continuar os estudos.
“A ANP exige uma acidez de até 0,8 miligrama de KOH por grama de óleo. A nossa amostra apresentou 0,72 miligrama de KOH por grama de gordura de manga”, informa Kátia Aquino. KOH é a sigla de hidróxido de potássio.
O próximo passo do trabalho será a realização de testes de octanagem, que medem o poder de combustão do biodiesel. O trabalho deverá ser realizado no Departamento de Engenharia Química da UFPE. O pedido de patente do processo foi depositado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) e a equipe recebeu um número provisório.
A pesquisa teve início em 2009, quando duas alunas do Colégio de Aplicação da UFPE procuraram Kátia Aquino para propor uma pesquisa sobre biodiesel. “Elas queriam concorrer a um prêmio nessa área e aconselhei que procurássemos algo inovador, e não as oleaginosas já estudadas”, recorda a professora de química do colégio federal e vinculada ao Departamento de Energia Nuclear da UFPE.
Foi quando uma delas pensou na manga. “O raciocínio era de que, se a polpa da fruta era rica em gorduras e por isso se evita sua ingestão em dietas para emagrecer, podia também ser rica em óleo”, lembra.
A equipe recebeu apoio para o trabalho de uma fábrica de sucos e polpas em Goiana, no Litoral Norte do Estado. O proprietário da indústria, Sandro Cavalcanti, calcula que metade do peso da manga seja de polpa e metade de resíduo, entre caroço e casca. “Atualmente usamos como adubo das fruteiras mas se a pesquisa evoluir pretendo produzir também biocombustível ou, no mínimo, agregar valor ao caroço vendendo para usinas de biodiesel”, adianta.
BIOLARVICIDA
Outro desdobramento da pesquisa foi a utilização da gordura da amêndoa da manga no controle da larva do mosquito transmissor da dengue. Os resultados foram tão promissores que o biolarvicida também teve a patente requerida. A amêndoas da manga, explica, é rica em ácidos graxos livres, que estão na base da composição dos biolarvicidas do Aedes aegypti.