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Publicado em: 06/07/2012 às 18:00

FAPESB apóia II Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária que acontece até dia 08 de julho

Por: Ascom/Fapesb

Teve início na última terça-feira o II Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária promovida pela Universidade Estadual da Bahia (UNEB), com o apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB). O evento, que acontece de 3 a 8 de julho, engloba um conjunto de atividades, com palestras, recitais, apresentações de grupos musicais, mesas-redondas e oficinas, e oferecerá, nos dias 7 e 8, diversas opções de roteiros de turismo comunitário em bairros populares de Salvador.

Na tarde da quarta-feira, aconteceu no Teatro Caetano Veloso, na UNEB, uma apresentação do grupo cultural Balanço das Latas Brasil, que realiza trabalhos musicais com crianças, a partir de instrumentos feitos de material reciclável. Em seguida, teve início a mesa-redonda “Turismo Comunitário e Solidário no Brasil e na Bahia”, mediada pela professora Sandra Guaré, que contou com a participação do pesquisador e coordenador do Programa Terra Sol, Alberto Viana de Campos Filho, a representante da Rede Tucum, do Ceará, Rosa Pereira e a produtora cultural e professora da UEFS, Gal Meireles.

A palestrante Rosa apresentou a Rede Tucum, um projeto pioneiro de turismo comunitário realizado na Zona Costeira do Ceará. As comunidades desta região são marcadas por um processo de resistência que se iniciou na década de 70, quando passaram a ser ameaçadas por grandes projetos, como complexos industriais e portuários, parques eólicos, criadouros de camarão e pelo turismo convencional. Estes conflitos levaram a população a iniciar o trabalho de turismo comunitário.

“O turismo comunitário é aquele em que as populações locais possuem controle efetivo sobre seu desenvolvimento e gestão. Está baseado na gestão comunitária ou familiar das infraestruturas e serviços turísticos, no respeito ao meio-ambiente, na valorização da cultura local e na economia solidária”, explicou Rosa. Junto com outros membros da Rede Tucum, ela elaborou alguns princípios, com orientações para as pessoas que quisessem se engajar no projeto. Acima de tudo, os princípios focam no respeito ao ser humano, englobando homens, mulheres, jovens e crianças: “Todos são convidados a participar e discutir o projeto, todos podem e devem colaborar”, disse Rosa.

Para iniciar o trabalho de turismo comunitário, a equipe promove debates com a população sobre a sociedade e sua visão de mundo. Em uma segunda etapa, discute o turismo convencional e o comunitário e, por fim, pergunta se a comunidade quer desenvolver esta atividade. Os grupos são formados e começam a realizar pesquisas para conhecer os desafios e potencialidades de suas comunidades e realizam um evento para apresentarem o projeto aos moradores. Cada grupo recebe treinamento específico sobre a área na qual deseja trabalhar.

Hoje, a rede Tucum envolve 13 comunidades costeiras, dois pontos de hospedagem solidária e duas ONGs parceiras. “Elegemos estratégias para que o turismo se consolidasse como tarefa econômica, política e cultural”, explica Rosa. Segundo ela, é preciso ter uma estrutura adequada para se desenvolver o turismo comunitário de qualidade: “Uma de nossas comunidades tinha apenas um quarto para hospedagem e hoje possui 60 leitos. À medida que a comunidade precisa ampliar sua estrutura, nós auxiliamos”.

Para que o trabalho prossiga com sucesso, Rosa diz que é necessário que as comunidades estejam inseridas de forma mais ampla nos debates políticos de seu município. É preciso que elas participem de encontros com o prefeito, marchas e mobilizações, não apenas focadas no turista, mas na sua própria população: “Não é porque o turista vem que precisamos asfaltar a rua, e sim porque nós moramos lá e precisamos da rua asfaltada”, diz Rosa.

O pesquisador Alberto Viana apresentou sua visão do Turismo de Base Comunitária (TBC) que vem sendo desenvolvido no Brasil e na Bahia. Para ele, a principal motivação para se realizar turismo comunitário é conhecer os diferentes modos de vida e ver as necessidades de cada comunidade. Alberto falou sobre a ausência de políticas públicas para o turismo comunitário: “Em menos de três anos tivemos três ministros no MTUR, que tiraram o TBC das discussões. Mas mesmo assim, muitas iniciativas prosseguem sem o apoio do governo”.

Alberto apresentou as diferenças do turismo na comunidade e turismo da comunidade. Segundo ele, o turismo na comunidade é o turismo de ver: “O turista fica dentro do veículo apenas vendo o que o guia aponta”, explica. O turismo da comunidade é de conviver, em que o turista conhece de fato o modo de vida da comunidade, experimenta e vivencia seus costumes e suas tradições.

A professora Gal Meirelles mostrou o trabalho desenvolvido com jovens da Ilha de Maré, através do projeto Meu Lugar Vê o Mundo, que insere estes jovens no mundo da fotografia. O projeto nasceu de resultados obtidos em pesquisas ao redor da Baía de Todos os Santos, sobre a qualidade do ar. A Ilha de Maré fica em frente à comunidade de Botelho, que recebe muitos produtos químicos do polo industrial de Aratu, como carvão, enxofre e etanol, deixando a população em situação de risco. Após medirem a qualidade do ar com filtros especiais, constatou-se que o ar em Botelho é mais poluído do que no centro de São Paulo. A partir desta pesquisa, Gal conversou com a comunidade sobre a implementação do Meu Lugar Vê o Mundo.

Através do projeto, os jovens participaram de uma oficina de 40 horas, que consistiu em um curso básico de fotografia digital. “A ideia é formar um acervo, tratar as imagens, fazer uma exposição na comunidade e fora dela e comercializar as fotos”, explicou Gal. A ideia do projeto era mostrar aos jovens um olhar diferenciado sobre o seu mundo, valorizando o lugar onde vivem e o seu próprio trabalho. “A foto é muito importante para o turismo e existe muito pouco material sobre a Ilha de Maré”, disse a professora. Segundo ela, a intenção é transformar as fotos em um livro.

O II Encontro de Turismo de Base Comunitária e Economia Solidária irá até o dia 08 de julho. A partir das 14h de hoje, o grupo Reggae, Raizado na Palavra fará uma apresentação no Teatro Caetano Veloso, seguido da mesa-redonda “Turismo Rural na Agricultura Familiar e Produção Associada no Brasil”. Às 17h acontecerão três oficinas de artesanato, pintura e arte e Circuitos de Caminhadas Anda Brasil.

Fonte: ascom/fapesb
Foto: Grupo Cultural Balanço das Latas Brasil

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