Seminário da FAPESB apresenta pesquisas em Saúde para São Francisco do Conde
Por: Ascom/Fapesb
Foi realizado no dia 20/06, na Câmara Municipal de São Francisco do Conde, o Seminário Final de Pesquisa do Edital 026/2009 – Pró-Saúde São Francisco do Conde (SFC). O objetivo deste Edital foi apoiar projetos de pesquisa, de natureza científica, tecnológica ou de inovação, que contribuíssem para a resolução de problemas de saúde deste município, cuja população é predominantemente negra.
Os 13 projetos apresentados dividiram-se em três eixos temáticos: Saúde da população negra de São Francisco do Conde; Determinantes sociais em saúde; e Saúde Ambiental. Muitos projetos trataram da questão da pesca de mariscos que é uma atividade muito importante para a economia do município. O professor Kan Lin do IFBA, por exemplo, apresentou sua pesquisa em Saúde Ambiental das Marisqueiras e Pescadores Artesanais das Comunidades Sede/São Beto e Muribeca. Lin constatou que as águas dessas comunidades estão em grande parte contaminadas e é preciso promover a conscientização quanto a não poluição dos rios nas escolas. Associada a este problema está a falta de saneamento básico na maioria das casas. Cerca de 80% das habitações têm problemas no descarte de lixo e esgoto e a presença de insetos e ratos.
O pesquisador analisou amostras de sururu, lambreta e ostras e concluiu que os moluscos estão com níveis de metal acima do recomendado, como cobre, zinco e chumbo. Para amenizar as dificuldades, Lin diz ser necessário chamar a atenção das autoridades quanto à questão dos esgotos, realizar o monitoramento microbiológico das águas, diversificar a alimentação da população, que se alimenta majoritariamente de mariscos, promover programas de exercícios físicos para os marisqueiros e de saúde e educação ambiental para a população em geral.
Outro tema muito discutido nas pesquisas foi em relação à Anemia Falciforme, que atinge principalmente a população negra. A pesquisadora Marilda de Souza Gonçalves, da FIOCRUZ, realizou uma pesquisa com 1246 crianças de 8 a 12 anos, para identificar a doença falciforme em SFC. “A Doença Falciforme é uma mutação genética que causa deficiência na oxigenação dos tecidos e pode afetar vários órgãos, causando muita dor”, explicou a pesquisadora. Foram feitos exames para analisar a hemoglobina das crianças, e, embora a Bahia seja o estado com maior predominância de Anemia Falciforme do país, apenas três crianças apresentaram a doença. “Ficamos surpresos com a ausência de crianças com anemia falciforme nas escolas”, diz Marilda. Diante do resultado, a equipe de pesquisa levantou duas hipóteses: ou as crianças não estavam frequentando a escola, ou as portadoras da doença não estavam sobrevivendo. “É preciso pesquisar a ausência da doença e fazer um mapeamento das áreas em SFC”, concluiu Marilda.
Um trabalho que suscitou um grande debate foi o da professora Climene Laura de Camargo, da UFBA, sobre Fatores de Vulnerabilidade na Saúde das Crianças e Adolescentes de SFC. A pesquisa focou nas condições de vulnerabilidade dos jovens quanto a alguns aspectos, incluindo violência doméstica e gravidez na adolescência. Segundo a pesquisadora, os profissionais de saúde do município estão despreparados para identificar a violência familiar. Muitas adolescentes e mulheres que chegam aos postos de saúde com hematomas e machucados não têm coragem de relatar a agressão sofrida e acabam não recebendo o apoio necessário. Este é outro problema detectado por Climene: a inexistência de notificações quanto à violência. Como sugestão, a pesquisadora propôs a construção de um guia de serviços de atenção a pessoas em casos de violência.
Quanto à gravidez na adolescência, Climene apontou alguns possíveis motivos para o alto número de jovens grávidas – 43 ao todo – identificadas durante sua pesquisa, tais como falta de orientação sexual, atividade sexual precoce, falta de conhecimento de métodos contraceptivos e de como usá-los. Além disso, de acordo com a pesquisadora, o Programa de Acolhimento Social (PAS) instituído no município em 2009, para complementar a renda das famílias mais pobres, contribui para que estas jovens não retornem à escola, diminuindo suas perspectivas de futuro. Este tema específico suscitou grande debate durante o seminário, em que alguns dos presentes defenderam o PAS e outros o apontaram como um desincentivo para a permanência das jovens na escola. Climene defendeu sua colocação, dizendo que o PAS deve ser usado de forma a promover o desenvolvimento pleno das famílias e das adolescentes: “Estas adolescentes saem da escola, não têm perspectiva para voltar e quando indagadas sobre como irão se sustentar, citam o apoio d
a prefeitura por meio do PAS”, disse. “Não acho que se deva acabar com o auxílio, mas, junto a ele, incentivar as meninas a não deixarem a escola, a buscarem o posto de saúde para ter acompanhamento e acesso a métodos contraceptivos.”
Marivaldo do Amaral, Secretário da Fazenda de São Francisco do Conde lembrou o início da parceria com a FAPESB, em 2009, e do repasse de R$ 2 milhões à Fundação que, segundo ele, foi um ato inusitado na Bahia. “Este recurso retorna para a sociedade de maneira séria e segura e temos consciência de que as pesquisas poderão orientar a prefeita para que ela possa nortear os cuidados para com a saúde da população de SFC”, disse.
O Diretor Científico da FAPESB, Eduardo Boery, disse que estas pesquisas só foram possíveis devido à atenção da prefeita Rilza Valentim em relação à saúde da população. “Temos orgulho de dizer que a Bahia e o município de SFC são pioneiros nesse tipo de parceria para a melhoria da saúde da população. Nós temos que dar valor à educação e à saúde, porque se tivermos educação e saúde nós seremos realmente um país em franco desenvolvimento”, disse Boery.
A Secretária de Saúde de SFC, Telma Conceição Silva, lembrou que o seminário, de certa forma, era uma prestação de contas ao município, pelo investimento que foi feito pela prefeitura em parceria com a Fapesb. Além destes, estiveram presentes na mesa de abertura a Secretária de Governo Silmar Carmo – representando a prefeita, o representante do Conselho Municipal de Saúde, Antônio Bartolomeu Silva, o Secretário Municipal da Reparação de Salvador, Aílton Ferreira e a assessora especial da prefeita de SFC, Marília Fontoura.
Fonte: ascom/fapesb
Foto: Seminário Final de Pesquisa no auditório da Câmara Municipal de SFC