Seminário da FAPESB traz iniciativas viáveis e de baixo custo para o Semiárido
Por: Ascom/Fapesb
A baixa umidade e o pouco volume pluviométrico são características do semiárido. Esse tipo de clima que não se configura de maneira homogênea, no Brasil, tem a região nordeste como o maior território comprometido pela seca e falta de políticas públicas para sanar seus velhos e novos problemas. Alguns projetos contemplados pelo edital 006/2007 da Fundação de Amparo à Pesquisa (Fapesb) chegam em 2012 através do I Seminário de Avaliação Final de Pesquisas do Edital do Semiárido – realizado nos dias 17 e 18 de maio – de maneira muito conveniente a resolução de problemas pontuais das comunidades semiáridas, com iniciativas viáveis e de baixo custo.
Biodiversidade e ecologia, uso e reuso da água, cultura, segurança alimentar, trabalho e geração de renda, e habitação – esses foram alguns os eixos nos quais os 35 projetos apresentados foram distribuídos no edital da Fapesb. O professor Paulo Roberto Lopes Lima, da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), apresentou um dos trabalhos – desenvolvido em Serrinha e Retirolândia (Bahia) – sobre a avaliação e aperfeiçoamento das placas usadas nas cisternas destinadas ao armazenamento de água da chuva. “A proporção dos materiais [usados para a elaboração das cisternas] era ruim. Adicionava-se muita água, enfraquecia a mistura e a cisterna rachava”, explicou o pesquisador.
O professor Vital Pedro da Silva Paz, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), trouxe, com seu projeto, outra demanda do semiárido baiano, que é o melhor aproveitamento da água, associado à produtividade e geração de renda. O pesquisador da UFRB propôs um modelo de cultivo de hortaliças com o uso de águas salobras em Sapeaçu – BA – e o uso de rejeito da dessalinização do poço Caminhoá (Recôncavo Baiano), que resultou numa produção de alface tecnicamente aceitável. Ele afirmou que um trabalho contra seca ou chuva seria impossível. “O que se busca é uma adaptação com rentabilidade e qualidade de vida para o nosso povo”, acrescentou.
Outros projetos
A melhoria das boas práticas para a fabricação da cachaça – fonte de renda para produtores do semiárido – e a seleção de leveduras na sua fermentação, visando o melhoramento biotecnológico do processo produtivo, assim como a seleção de linhagens boas para a produção de bioetanol fizeram parte do projeto apresentado por Ana Paula Trovatti Uetanabaro da Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC). “Incentivamos produtores a trabalhar com boas práticas, isolando microorganismos ruins para melhorar a qualidade das bebidas na região de Rio de Contas, Ibirapitanga, Lençóis, Recôncavo”, explicou. A pesquisadora também destacou que as ações do seu projeto ainda estão em andamento, apesar dos atuais resultados, porque a comercialização dessa “cachaça que não causa ressaca” não foi priorizada.
No momento em que o Nordeste enfrenta problemas por conta da seca – mais de 200 localidades, apenas na Bahia, sofrem pela falta de água – a sobrevivência dos rebanhos usados para a subsistência familiar é uma das questões que estão em pauta. E nesse aspecto, o objetivo do trabalho apresentado pela pesquisadora Silvia Ines Sardi, do Laboratório de Virologia da Universidade Federal da Bahia (UFBA) foi avaliar a presença de uma espécie de vírus (Lentivirus de pequenos ruminantes) em caprinos e ovinos, e a caracterizar o perfil socioeconômico da caprino/ovinocultura, a partir das 134 experiências em propriedades do Portal do Sertão, Sisal e Bacia do Jacuípe – localidades baianas.
Convivência com a seca
O Tecnologista e Coordenador de pesquisa do Instituto Nacional do Semiárido (INSA), Aldrin Martin Perez Marin, que esteve presente durante o Seminário da Fapesb, avaliou que os resultados dos projetos são muito positivos e propositivos. “Quase a maioria deles apontou para a qualidade de vida das pessoas – envolveram o ser humano como protagonista, e tem como elemento a transdisciplinaridade”, afirmou. Para o coordenador de pesquisa do INSA, todos os projetos têm tecnologias de convivência com o semiárido. “A seca não é apenas um problema de ciência, tecnologia ou inovação, mas também de normas básicas de sobrevivência.”, defendeu.
“Os resultados [dos projetos] são fantásticos. Isso faz com que o tema semiárido conste em discussões, debates, para que soluções sejam propostas e novos projetos de pesquisa sejam retroalimentados”, pontuou Natoniel Franklin, Chefe Geral da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) de Pernambuco. Natoniel ressaltou o papel da Embrapa nesse cenário, afirmando que há 37 anos essa instância atua na geração e adaptação de várias tecnologias, como a política governamental para implementação de um milhão de cisternas que partiu de uma pesquisa da entidade. “Temos que acabar com a associação do semiárido à seca, ao animal morrendo, à pobreza, pois as pessoas podem viver bem com o apoio público”, completou.
Velhos e novos problemas do semiárido
No último dia do seminário Aldrin Martin Perez Marin e Natoniel Franklin integraram, junto com o Diretor de Planejamento Territorial em Exercício da Secretaria de Planejamento (SEPLAN), Marcelo Rocha, e o Professor da Faculdade de Economia da UFBA, Vitor de Athayde Couto, uma mesa redonda sobre os velhos e novos problemas do semiárido. O integrante do INSA iniciou as explanações apresentando dados sobre os estudos desenvolvidos no instituto.
De acordo com Aldrin Martin Perez Marin, a área do semiárido brasileiro compreende cerca de 980.133.079 km², o que soma nove estados – onde vivem 22.598.318 habitantes. Ele destacou que secas severas tem ocorrido a cada 10 ou 15 anos, reforçando que a forma correta de lidar com ela é através de uma educação contextualizada, associada à sustentabilidade. “O semiárido deve ser definido como espaço, garantindo assim, a sua territorialidade”, concluiu.
A taxa de indigentes e pobres no semiárido é de 38,6% e 64,1% respectivamente, segundo apresentou o Chefe Geral da Embrapa. Ele ponderou que programas do governo, como o Bolsa Família e Bolsa Açude tem sido de grande valia para as famílias que convivem com a seca, tornando a situação diferente de tempos passados. Natoniel Franklin também levantou a importância do surgimento de universidades nas localidades onde esse clima caracterizado pelo baixo índice de chuva se apresenta.
O professor Vitor de Athayde Couto falou sobre a importância de se discutir o semiárido. “Havendo ou não essas discussões, o semiárido está se movimentando por si”, ponderou.
Ações do Estado destinadas ao Semiárido
Na Bahia, o território do semiárido, onde vivem cerca de 6,7 milhões de pessoas (IBGE/2010), abarca 394.892 km², o que corresponde a aproximadamente 70% de todo o estado e 43,5% a nível nacional, de acordo com o que mostrou o Representante da SEPLAN, Marcelo Rocha. Ele apresentou as políticas do Estado para o desenvolvimento territorial sustentável, destinadas aos 27 territórios de identidade que integram a Bahia.
“O que fica é uma convergência de interesses, porque o secretário constituiu um grupo pra pensar o semiárido dentro da SEPLAN e articular as políticas, assim como para abrir uma discussão com a sociedade. Criou outro grupo para que as universidades discutam.”, explicou Marcelo Rocha. Há um interesse da Secretaria de Planejamento de aproximar as tecnologias sociais para os territórios, convergindo tanto a produção científica como a tradição da convivência com o semiárido, de acordo com ele. “O governo já dividiu o território da Bahia em 27, buscando reconhecer que há diferenças entre eles”, pontuou.
O Diretor de Planejamento Territorial lembrou as principais ações de apoio aos territórios do semiárido desenvolvidos pelo governo, como o Programa Água para Todos. O Programa tem dois principais eixos – abastecimento de água, que compreende a perfuração e operação de poços, a construção de cisternas para captação de água da chuva, a construção e operação de barragens e a implantação, ampliação e melhorias de sistemas de abastecimento de água. O segundo eixo é conduzido por outras três linhas de ação, esgotamento sanitário, saneamento integrado e meio ambiente. Prevê, ainda o manejo de águas pluviais, coleta, tratamento e disposição de resíduos sólidos, aliados as intervenções de urbanização e de melhorias habitacionais.
Fonte: Portal Ciência e Cultura